Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca
e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é
de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam,
cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de
fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço
de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em
que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só
animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No
negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e
mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
(OS POEMAS POSSÍVEIS DE JOSÉ SARAMAGO)
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Poemas Possíveis, foi o único livro que li de José Saramago.
Por isso no dia em que morreu fiz este post ;http://poesiaerosas.blogs.sapo.pt/tag/saramago e pela mesma razão deixo hoje mais um poema do mesmo livro. Porém conheço a sua história de vida.
No passado mês de Junho, a quando da inauguração das obras do lugar onde vivo, foi-me pedido que fizesse um poema, (tipo discurso) para oferecer à estilista que nos ofereceu uma fantástica pintura nos prédios, Ágata Ruiz de La Prada. Aproveitei para agradecer a Espanha o acolhimento que fez, ao J.Saramago e de alguma forma falar daquele que foi "escorraçado" do seu país. Pouco entendido e mal amado pela sua Pátria.
Os meus versinhos foram levados pela estilista, o que me honrou. Deixo-os aqui com humildade, apenas para dizer o que sinto e participar de alguma forma, numa homenagem a um homem que admiro, José de Sousa Saramago.
Obrigada...
Já faz mais de trinta anos, que fiz deste o meu lugar,
Criei filhos , tenho netos, e por aqui vou ficar...
Até que a morte me leve, para onde tem que levar...
E fui vendo envelhecer este bairro social,
Que ainda há pouco tempo, estava mal, muito mal...
Deram-lhe vida e cor, um bom banho de limpeza,
Está lindo que é um amor, para se viver em beleza!
Da História do meu País, há coisas que não me lembro,
Outras coisas que se diz... e outras que não entendo...!
Sou humilde, sem cultura, mas na minha simplicidade,
No coração tenho ternura, e nas palavras verdade...
De Espanha nada conheço, não me foi proporcionado,
Mas há coisas que não esqueço, pelas quais eu agradeço,
Dizendo o meu obrigado... Um obrigada sincero,
Que no coração eu trago, pela forma como acolhes-te
E até como amas-te, o “nosso” José Saramago.
Esquecido por sua gente, Portugal, onde nasceu...
Era simples, mas diferente... era muito verdadeiro,
Admirado no mundo inteiro... aqui ninguém o entendeu...
E agora temos aqui, este alegre colorido,
Idealizado por alguém, que deve ser muito querido...
Um coração de criança quiçá até brincalhão...
Que nos encheu de esperança, com esta transformação...
E que mais posso dizer?
Não vou dizer-vos mais nada, para não aborrecer!
E vou só agradecer a Ágata Ruiz de La Prada...
E que continue a festa, desta inauguração...
E juntemos nós a esta, a festa do S.João...
Guimarães, 24 de Junho de 2011
Maria Rosinda Fernandes
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